quinta-feira, 26 de março de 2009

OS ELEITOS...

Estou lendo um livro sobre fidelidade, terceiro de uma série sobre comportamento, de uma psicanalista e sexóloga conceituada. Nele, baseada na sua experiência em consultórios, a autora aponta uma tendência para o estabelecimento público de relações amorosas paralelas. Para ela, "num futuro próximo, casais podem estar ligados por questões afetivas, profissionais ou mesmo familiares, sem que isso impeça que suas vidas amorosas se multipliquem com outros parceiros. Viver junto será uma decisão que vai se ligar muito mais a aspectos práticos.
As pessoas podem vir a ter relações estáveis com várias pessoas ao mesmo tempo, escolhendo-as por afinidades. Talvez uma para ir ao cinema e teatro, outra para conversar, outra para viajar, a parceria especial para o sexo, e assim por diante."
Ainda na opinião dela, "o amor que conhecemos começa a sair de cena, levando consigo a idealização do par romântico, com a idéia de os dois se transformarem num só e, cosequentemente, a idéia de exclusividade".
Desta forma, não haveria mais pressão social para a fidelidade.
As pessoas poderiam se relacionar simultaneamente, da forma que preferissem, com muitas pessoas diferentes, sem que houvesse atrelado o conceito da traição.
Para fundamentar esta teoria, a autora remonta histórias da antiguidade, faz relatos da infidelidade no Império Romano e nos dias atuais, entre um grupo de amigos da sociedade paulista, preservando as identidades reais dos protagonistas.
Tudo isso, reunido na obra, aponta para uma tendência natural do ser humano em buscar uma pluralidade de relações amorosas, com a aprovação da sociedade.
Ela prevê que os casais deixariam de ficar no eixo infidelidade conjugal e frustração ou renúncia dos desejos e fantasias.
Não tenho a formação profissional na área de biomédica. Tão pouco tenho dados de realidade reunidos a respeito do tema infidelidade.
Tudo que possuo é o que sinto, percebo, intuo e reflito...
No entanto, este não me parece um conceito novo!
Para não ir muito longe, basta rever os anos 60 e 70, com o surgimento do movimento hippie, a criação da pílula e a liberdade sexual crescente de lá para cá ... Surgiram naquela época, alguns grupos que praticavam o sexo grupal e pregavam o amor livre... Existem até hoje! Muitos casais se denominam "abertos" e permitem que os pares tenham outros parceiros, com o conhecimento deles. Existem os clubes de swing (troca de casais) e casos conhecidos de mulheres que aceitam dividir seu marido com outras esposas. Isso, sem falar das culturas onde a multiplicidade de parceiros é amplamente praticada como norma.
Mas para mim, existe algo mais entre este binômio infidelidade e repressão...
AINDA ACREDITO, PIAMENTE, QUE UMA PESSOA POSSA DISTINGUIR OUTRA, ENTRE TODAS AS DEMAIS, ATRIBUINDO A ELA UM VALOR ÚNICO EM SUA VIDA!
Alguns podem pensar que esta minha certeza é resquício da cultura do "amor romântico", tão estudado e comentado, reflexo, para muitos, de um período histórico, que vem ecoando até hoje ou de reflexos das relações afetivas da primeira infância.
Mas, não concordo!
Acho que esta é a verdadeira tendência do ser humano: o vínculo especial com uma pessoa, que entre tantas outras, se torna o (a) eleito (a) de uma forma inatingível pelas demais.
AQUELE AMOR QUE FICA PARA SEMPRE!
Em todos os haréns, há uma preferida! Nem sempre é a primeira esposa, é verdade, mas há uma que agrada mais ao Sultão, Rei, Monarca ... Nas tribos indígenas e africanas, que praticam a poligamia, também!
O homem moderno que "administra" vários relacionamentos também acaba atribuindo um valor a mais a alguma mulher. Conheço alguns...
Na literatura e na história, existem mulheres que tiveram vários amantes, mas que também desejaram um homem de forma diferente dos outros.
Acho que esta distinção, esta escolha, esta afinidade, esta sintonia, esta "coisa de pele", este amor ... é que é natural!
Sei que um ser humano vivido, pode ter tido vários amores, várias pessoas especiais, várias trocas enriquecedoras ... cada qual de uma forma e com uma intensidade, podendo, inclusive, acontecerem paralelamente! Mas, sei também que no fim de uma vida, ao longo do tempo, num balanço geral, haverá alguém especial, que merecerá uma lembrança a mais, um pensamento final ...
Vejo isso em obras de ficção, em histórias comentadas, em biografias, em vidas próximas...
Acredito mesmo que as pessoas, seres múltiplos, poderm vir a diversificar ainda mais o número e a forma dos relacionamentos...
Acho, até, que isso não ajudará ao ser humano a ser mais livre e feliz, como julga a autora do livro. Para mim, o relacionamento afetivo, profundo, entre duas pessoas já exige muito da condição humana. Aumentar o número de parceiros, no meu ponto de vista, é pulverizar as emoções e retirar a verticalização da relaçã afetiva.
E, NÃO ACHO QUE NADA DISSO SEJA IMPEDIMENTO PARA SE CRIAR UM VÍNCULO ÚNICO, COM ALGUÉM ÚNICO, DE UMA FORMA ÚNICA!
Estava vendo, recentemente, uma retrospectiva sobre a vida do excêntrico Clodovil. Uma figura pública que, no mínimo, nunca passou em branco. Assim como o Romário, a Dercy Gonçalves, o Brizola ...
Aquele tipo de pessoa que se ama ou se odeia, mas que não se pode ignorar!
Mas, isso é outro papo ...
E a matéria sobre ele fazia uma colagem de várias entrevistas.
Em uma delas, feita pelo apresentador de TV, Amaury Jr, ele contou que amou uma vez, sem saber que amava...
E o Amaury disse que ele nunca tinha vivido com ninguém e que ele já havia declarado antes nunca ter amado. E ele, rebateu, reafirmando: "- Eu amei uma vez, sem saber que estava amando!"
E, sem revelar o nome, ele contou que viajou com esta pessoa para Paris e ensinou muitas coisas a ela... Com o tempo, eles se distanciaram... A pessoa se casou, teve filhos, e há pouco tempo atrás, quando o Clodovil teve câncer, esta pessoa mandou um e-mail, dizendo que ele estava feliz, que amava a mulher, o filho e a filha, mas nunca como o tinha amado.
O Clodovil se emocionou e a houve um corte...
Eu chorei!
Histórias de desencontros existem muitas... De todos os tipos....
Assim, como existem encontros extraordinários e amores bem sucedidos...
Isso não vem ao caso agora, mas o que para mim não mudará mesmo, é a predisposição humana a amar alguém mais do que a qualquer outro!!!
E, isso, não tem a ver com o formato dos relacionamentos!
Existem pessoas que traem todos os dias seus companheiros sem praticarem sexo com mais ninguém!
Existem outras, fidelíssimas aos seus amores, que praticam sexo por profissão!
Infidelidade conjugal não tem só a ver com sexo!!!
Existem pessoas casadas que se mantém fiéis fisicamente aos cônjuges e afetivamente a amores que ficaram no passado ou ainda nem existiram, além da idealização!
Pode ser que haja uma permissividade social, uma transformação na vida em comunidade, para que as pessoas mantenham mais livremente relações afetivas com muitas outras... Isto apenas aumentará a lista de pessoas com quem cada um poderá trocar durante a vida ...
Mas não é o amor que vai mudar!
Na minha opinião, nada poderá impedir que haja os eleitos!!!
E, na sua?

Paula

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